Logo Cesar Peres Dulac Müller

BLOG CPDMA

Categoria:
Data: 5 de junho de 2019
Postado por: Gustavo Manica

Não basta apenas registrar uma marca, é preciso usá-la

Em janeiro deste ano, uma briga entre a gigante norte-americana McDonald's e a rede irlandesa de restaurantes Supermac's chamou atenção em torno da famosa marca “BIG MAC” na Europa. Tudo começou em 2015, com a tentativa de expansão da rede irlandesa pelo Reino Unido e União Europeia. A rede, dona de mais de 100 lojas espalhadas em seu país de origem, ingressou com pedido de registro da marca, que leva o nome do restaurante, “SUPERMAC’S”, perante o Escritório de Propriedade Intelectual da União Europeia (Euipo).

Na tentativa de impedir o registro, o McDonald's apresentou objeção, aduzindo que a marca poderia causar confusão nos consumidores por ser semelhante àquela de sua titularidade e preexistente, a “BIG MAC”. Essa estratégia, contudo, restou frustrada. O órgão entendeu que a “SUPERMAC’S” possuía a anterioridade de uso do nome, haja vista se tratar do apelido do fundador da companhia, Pat McDonagh, ainda na juventude, passível, portanto, de registro.

Em revide ao ataque, em 2017, a irlandesa requereu o cancelamento das marcas “MC” e “BIG MAC”, sob a alegação de marketing ilegal e registros de marcas unicamente para reserva de mercado por parte da companhia americana. O fornecimento de cópia de sites, embalagens, declarações de executivos e um print da página do McDonald's na Wikipedia — a fim de comprovar sua atuação e venda de produtos na União Europeia —, entretanto, não bastou: o Euipo entendeu que as provas relacionadas eram insuficientes para comprovar o uso efetivo da marca “BIG MAC”. O cerne da discussão estava na realização da prova de que o lanche Big Mac é vendido em toda a Europa, fazendo uso da marca, não se tratando de registro para bloqueio de concorrência.

O mercado repercutiu declarações sobre a perda definitiva da marca “BIG MAC”, porém, a fase administrativa do processo não estava encerrada. Em março, o McDonald’s apresentou recurso da decisão, este ainda pendente de julgamento. Aliás, a fase judicial, bem provável caso não haja modificação da decisão em grau de recurso, até onde se tem notícias, sequer iniciou. O recurso do McDonald’s será julgado pela alta corte da União Europeia em Luxemburgo.

A multinacional norte-americana é detentora de um grande portfólio, além de possuir direito sobre suas marcas em todos os países da Europa. O registro em discussão diz respeito a apenas um dos tantos registros da marca “BIG MAC”, este, em específico, em letras maiúsculas. Ou seja, nada está perdido. A marca “big mac” está registrada na União Europeia desde 1998, tendo sido renovada por duas vezes, sem que houvesse qualquer intercorrência. 

Você pode até não gostar do lanche ou mesmo da empresa, mas a estratégia de proteção de marcas da colossal companhia, em nível mundial, é extremamente competente e profissional. Nesse sentido, em relação ao Brasil, não identificamos muitas diferenças. Nosso sistema de concessão de marcas é atributivo de direito; ou seja, aquele que primeiro ingressa com pedido de registro da expressão é que tem prioridade sobre ele.

Todavia, é de extrema importância deixar claro que o registro da marca obriga seu titular a utilizá-la exatamente no segmento para o qual foi concedido, compreendendo todos os produtos ou serviços constantes no certificado. Agir diferente leva à hipótese de perda do direito, com a extinção do registro por caducidade. Basta que, após cinco anos consecutivos de concessão do registro, a marca deixe de ser usada no mercado ou que a empresa titular venha a modificar a sua logotipia. Neste cenário, o órgão registrante irá oportunizar o registro para “o próximo da fila” que ostente marca semelhante, desde que este consiga comprovar o uso efetivo da marca. 

A briga dos ‘‘Macs’’ deixa claro que as pessoas não podem utilizar o sistema de registros de marcas como uma forma de reservar o mercado ou enriquecer ilicitamente às custas dos outros, explorando a venda do direito de terceiros. Marca sem registro e sem uso é uma temeridade legal e, claro, mercadológica.

Fonte: Vanessa Pereira Oliveira Soares via website Consultor Jurídico.

Voltar

Posts recentes

Governança em empresas familiares: estruturas e instrumentos essenciais

A governança corporativa em empresas familiares tem ganhado cada vez mais relevância no cenário empresarial brasileiro, no qual cerca de 90% das empresas possuem controle familiar. A ausência de um planejamento adequado para a sucessão do negócio e a dificuldade de manter a harmonia nas relações familiares, em muitos casos, culminam no fracasso da empresa […]

Ler Mais
A resolução nº586/2024 do CNJ e o futuro dos acordos na Justiça do Trabalho

No dia 30/09/2024 o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) aprovou, por unanimidade, a Resolução nº 586, por intermédio do Ato Normativo 0005870-16.2024.2.00.0000, o qual disciplina a realização de acordo entre empregado e empregador na rescisão do contrato de trabalho, por meio de homologação na Justiça do Trabalho, com a quitação geral do contrato. Ou seja, […]

Ler Mais
A legitimidade das associações e fundações para o pedido de recuperação judicial e a nova posição do STJ.

No início do mês de outubro, a 3ª Turma do STJ, por maioria de votos, proferiu decisão em quatro recursos especiais (REsp 2.026.250, REsp 2.036.410, REsp 2.038.048 e REsp 2.155.284) se posicionando pela ilegitimidade ativa das fundações sem fins lucrativos para o pedido de Recuperação Judicial. A decisão, inédita até então, parece, em primeira análise, […]

Ler Mais
Governo do RS estabelece programa em recuperação II: parcelamento para empresas em recuperação judicial

O Governo do Estado do Rio Grande do Sul instituiu o Programa em Recuperação II, por meio do Decreto nº 57.884 de 22 de outubro de 2024, com o objetivo de permitir o parcelamento de débitos tributários e não tributários, de empresário ou sociedade empresária em processo de recuperação judicial, inclusive para contribuinte cuja falência […]

Ler Mais
Renegociação de R$ 60 bilhões em dívidas de empresas em recuperação judicial é regularizada pela PGFN

Com informações do Jornal Valor Econômico.Link da matéria original: http://glo.bo/3NOicuU Desde 2020, a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) tem avançado em negociações para regularizar dívidas de empresas em recuperação judicial, resultando na renegociação de cerca de R$ 60 bilhões. O número de empresas regularizadas triplicou, atingindo 30% dos casos, graças a uma abordagem mais colaborativa da […]

Ler Mais
Segurança jurídica: STJ e TST alinham entendimento sobre a natureza mercantil dos planos de stock options 

Por 7 votos a 1, a 1ª Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ), no recente julgamento do Tema 1226, decidiu que os planos de opção de compra de ações ofertados pelas empresas aos empregados - stock options - não possuem natureza remuneratória. No julgamento, afetado ao rito dos recursos repetitivos (REsp 2.069.644 e REsp 2.074.564) prevaleceu […]

Ler Mais
crossmenuchevron-down
pt_BRPortuguês do Brasil
linkedin facebook pinterest youtube rss twitter instagram facebook-blank rss-blank linkedin-blank pinterest youtube twitter instagram